Cães e gatos
Quando alguém, até recentemente, era chamado de cachorro, sentia-se, naturalmente, ofendido. A intenção era essa. Todavia, atualmente talvez a percepção esteja sendo mudada. A humanização dos animais é uma realidade. Tenho certa dificuldade em cuidar de animais. Entendo que necessitam de atenção e cuidados que não estou à altura de oferecer. Admiro os capazes desse desprendimento em prol dos pets.
Tive experiências memoráveis com cães e gatos. Algumas assustadoras, outras cômicas e compartilho algumas.
Ainda criança, por volta de cinco anos, um vizinho trouxe para sua casa, um cachorro enorme. De onde o via, quando me locomovia com mãos e joelhos no chão em decorrência da paralisia nas pernas provocada pela poliomielite, ele me parecia ainda maior. Para mim ficou aquela imagem de animal assustador.
Outra experiência, já com meus quatorze anos; eram dois grandes cães, guardando a granja próxima à minha casa. Ao passar por ali, talvez pelos sons metálicos que o aparelho ortopédico faz, de vez em quando, quando caminho, os animais avançavam furiosos em minha direção. Por sorte o lugar em que ficavam era cercado por uma grade até o teto. Quando eu percebia, de longe, que o portão do lugar estava aberto, preferia aguardar alguém fechar. Só para evitar alguma indigestão dos “bichinhos” acostumados com ração…
Essas memórias me vêm agora porque uma gata de rua veio fazer nosso quintal de maternidade para uma prole de cinco gatinhos. Depois que me tornei pai, bebês e filhotes me emocionam sempre. Essa chuvarada dificulta que a gata encontre comida facilmente, resolvemos comprar para ela um pouco de ração. Afinal trata-se de uma mãe amamentando cinco belos e fofos filhotes. Depois da primeira vez que recebeu a ração, ela, provavelmente, entendeu que o alimento passou a ser nossa obrigação diária. Assim, todo final de tarde, parava em frente à janela e, com olhar pidão, miava de forma que parecia um verdadeiro lamento. E me lembrei de um episódio, quando nos mudamos para Carneirinhos, em Monlevade. Com o resultado de um dia engraxando sapatos, comprei alguns deliciosos pirulitos de leite, Zorro. Um menino, também maltrapilho e encardido
como eu, me olhava com o mesmo triste olhar que vi na gata parida. E eu perguntei:
- O que que você quer, menino? Tá olhando o quê?
E ele, com alguma insegurança, apontou para minha mão e respondeu: - Eu quero é um.
Achei graça na forma de ele dizer e, claro, dei-lhe um dos doces.
Outra cena, pouco depois que perdemos nosso irmão, Tonico, aconteceu com meu sobrinho que, chegando da escola disse para minha irmã: - Oh! Mãe, todo dia quando eu chego da aula o Tonico fica me olhando.
- HEIN?!?!?!
- É, mãe, ele fica no muro me olhando…
Ela senta-se bastante assustada e preocupada, ainda abalada como todos nós, por nosso irmão, pergunta: - E ele fala alguma coisa?
- Não, né mãe! Já viu gato falar?
- Ufa! Que susto, meu filho. Nossa!
O gato também se chamava Tonico.
Mário Sérgio Rodrigues Ananias é Escritor, Palestrante, Gestor Público e ativista da causa PcD. Autor do livro Sobre Viver com Pólio.
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1 Comment
Muito interessante o seu relato. Gostei das pitadas de humor e da sinceridade.