‘Navio’ de 17 metros, laboratórios educativos e jantares temáticos: veja estratégias das casas de swing para inovar e atrair público
Levantamento realizado pelo site sexlog aponta aumento no número de novos adeptos às festas. Principal público tem entre 35 e 44 anos e gastam em média R$ 500 por noite.
Locais com seguranças na porta, canhões de luz que iluminam a parte externa e filas de pessoas aguardando sua vez de entrar. Esse cenário não é estranho para quem conhece o bairro de Moema, em São Paulo, uma das regiões que abrigam a animada vida noturna da capital.
Aos olhos de quem passa por ali, cada um desses estabelecimentos parece apenas mais uma balada paulistana — mas basta passar pela porta para perceber que esses lugares são, na verdade, as chamadas casas de swing.
Mas, primeiro, o que é uma casa de swing?
As casas funcionam como uma balada normal, contam com dj, pista de dança e bar com bebidas alcoólicas. O diferencial é o que acontece, normalmente, no fundo da festa ou no primeiro andar.
Os ambientes, conhecidos como labirintos, são um conjunto de salas usadas principalmente por casais para realizar fetiches sexuais, como troca de parceiros, ménage à trois (sexo envolvendo três pessoas) e cuckold (desejo sexual em ver o parceiro transar com outra pessoa), por exemplo.
As casas também costumam oferecer salas coletivas, onde diversos casais transam ao mesmo tempo, e algumas ainda permitem que as relações aconteçam no meio da festa — essas, por sua vez, são conhecidas como baladas liberais.
E com tantos quartos manjados nas festas, os frequentadores de swing — ou swingueiros — afirmam que o diferencial fica por conta da estrutura ou das novidades apresentadas pelas casas. Tanto que os proprietários precisam constantemente encontrar saídas para abraçar as demandas esse mercado.
Veja abaixo as estratégias usadas por algumas dessas casas para atrair público e se destacar no mercado:
‘Navio’ de 17 metros
O dono da Enigma Club, Assis Alves Junior, instalou a carcaça de um “navio” de 17 metros de comprimento e 25 metros de profundidade dentro da casa de swing para, segundo ele, dar uma experiência inusitada aos clientes – e ser um diferencial no mercado swingueiro de São Paulo.
Dentro do “navio”, existe um bar e 30 cabines, que vão desde quartos de vidro a salas coletivas e ambientes para cuckold. A casa existe há mais de 20 anos e a embarcação foi criada há cerca de 10 anos.
Contou que a parte da frente do navio custou aproximadamente R$ 40 mil. Os gastos com a estrutura, no entanto, já foram muito maiores, uma vez que Alves Junior constantemente realiza reformas e modificações para propor salas – ou cabines – novas. Para este ano, por exemplo, ele planeja alterar a parte superior do “navio”, onde ficam os camarotes.
“Inicialmente, eu ia fazer um trem. Porém, os custos ficaram altíssimos e eu teria que fazer uma operação muito grande para montar a estrutura. Então, eu tive a ideia de um navio. E, desde que eu criei a estrutura, estou constantemente realizando reformas, fechando e abrindo salas, para que os clientes sempre tenham novidades”, contou Assis.
O local tem um público na faixa dos 25 a 50 anos, sendo cerca de 200 casais por fim de semana. Os clientes têm um gasto médio de R$ 200.
Palestra sobre swing
Fábio Leandro, dono da Spicy Club, resolveu promover esporadicamente palestras comandadas pelo casal de influencers Camila e Edgar Voluptas. Ambos apresentam por aproximadamente 2 horas as regras de uma casa de swing.
Segundo o proprietário, tem pessoas – principalmente homens – que não entendem muito como as casas funcionam. “[Tem gente que acha que] vai chegar e encontrar todo mundo pelado e transando. Não é assim. Existe uma logística”.
E esse é o motivo pelo qual os homens, se forem sozinhos ao swing, tendem a pagar 4 vezes mais caro que um casal. A mulher, quando sozinha, muitas vezes entra de graça.
“Muitos caras acham que podem fazer o que quiserem se pagarem. Tem gente que quer pagar R$ 2 mil para entrar e eu não deixo. Além disso, se uma mulher está transando com cinco homens, ela tem o total direito de recusar um sexto. Não é não, e pronto”, afirmou o proprietário.
Palestras sobre swing na Spicy Club — Foto: Divulgação/Spicy Club
As palestras são gratuitas e acontecem antes da festa. “É como se fosse um laboratório educativo. Após aprenderem sobre swing, eles [clientes] conseguem colocar na prática”, disse o proprietário. Em agosto e setembro, Leandro planeja lançar uma palestra para falar sobre fetiches e outra voltada somente aos homens.
Ele também promove mais de 15 festas com temáticas diferentes, com o objetivo de atrair todo tipo de público. Uma delas, chamada de Violet Bibi, é conhecida por ter participação de casais bissexuais. Já outra, a balada nudista – como o próprio nome já diz – é voltada para pessoas que querem dançar e conviver completamente sem roupa.
O preço de cada festa varia. Em uma noite mais voltada para o swing, por exemplo, um casal paga em torno de R$ 350 (considerando entrada e bebida). A média de público é em torno de 500 pessoas por noite.
Jantares temáticos
O consultor de entretenimento da Villa Imperium, Paulo Alexandre, por sua vez, resolveu anunciar jantares temáticos para os clientes como cortesia. As comidas variam de mexicana, noite de queijos, festa italiana e sopa. “Como qualquer negócio, precisamos sempre buscar satisfazer nossos clientes”, afirmou.
Para ele, a escolha de oferecer comida é porque um casal que resolve ir para uma casa de swing tem um objetivo principal: praticar fetiches. Porém, ao chegarem, “[eles] vão encontrar além do que esperam, um lugar habitável, bonito e aconchegante. Tem mesa onde o pessoal consegue sentar, beber e tomar seu vinho”.
O buffet é das 21h às 23h, com o objetivo dos clientes chegarem mais cedo. O custo médio para o casal no final de semana é de aproximadamente R$ 250, sendo R$ 100 de consumação caso cheguem até 23h30 – e a comida já está inclusa no preço.
De todo modo, Alexandre afirma que, “na prática, o que atrai o nosso público é a proposta [de uma casa de swing] em si. O resto, [como a comida], é apenas um floreamento'”.
Anúncio da Villa Imperium no Instagram; noite de vinhos que acontece dentro da casa de swing — Foto: Redes sociais e divulgação
Quem costuma frequentar?
Os donos das casas comentaram que existem principalmente três tipos de clientes: os que tem curiosidade e estão indo pela primeira vez, os que vão com uma certa frequência e os que combinam em aplicativos e sites voltados ao sexo de se encontrarem nas casas.
A pedido do g1, o site Sexlog, voltado para pessoas que querem marcar swing na América Latina, realizou um levantamento sobre o perfil dos frequentadores das casas. O levantamento foi realizado com 9981 brasileiros, entre os dias 18 e 19 de junho.
No Brasil, o site possui 65,51% de homens que buscam swing e 26,6% de casais heteronormativos (formado por um homem e uma mulher). Já as mulheres são 6,53%.
Quanto à faixa etária:
- Entre 18 e 24 anos, o público é de 7,14%
- Entre 25 e 34 anos; 30,34%;
- Entre 35 a 44 anos; 37,67%;
- Entre 45 a 54 anos; 19,28%
- 54 anos ou mais; 5,56%
E o público, independente da idade, gasta em média R$ 500 por noite em uma casa de swing – o mesmo valor médio é desembolsado nas casas de São Paulo.
O levantamento também apontou que houve um aumento no número de adeptos do swing nos últimos anos. Veja no gráfico abaixo:
Quando foi a primeira vez que esteve em uma casa de swing?
O levantamento foi realizado com 9.981 brasileiros, sendo 2.921 em São Paulo, entre os dias 18 e 19 de junho.
Vale destacar que os números de 2024 foram contabilizados até o último dia 19 de junho e que a estimativa da CMO do Sexlog, Mayumi Sato, é que o volume de novos visitantes até o final de 2024 supere o do ano anterior.
Segundo Sato, a expectativa é que haja um crescimento no segundo semestre no que diz respeito a “alternativas para explorar a sexualidade”, incluindo um aumento de receitas para lojas — como sexshops, por exemplo —, redes sociais adultas e casas de swing.
“Historicamente o segundo semestre costuma ser muito forte nesse segmento, que tende a ser muito beneficiado pela ‘ressaca’ pós férias escolares em família, onde a a ida casas de swing é usada como válvula de escape. Algo como, as férias dos adultos depois das férias das crianças”, disse a executiva.
Ainda de acordo com Sato, ainda há uma tendência crescente de que as pessoas encarem as casas de swing como um espaço de prazer e experimentação, não limitado à prática do fetiche em si.
“As pessoas estão mais abertas para falar sobre sexo, prazer, novas formas de se relacionar e também a experimentar mais, e isso acaba renovando o público das casas, que por isso mesmo têm investido em eventos com mais diversidade de tema e público”, afirmou.
“A tendência é que uma visita à casa de swing passe a ser vista com cada vez mais naturalidade, afinal, ninguém sabe exatamente o que vai fazer por lá, fortalecendo assim este mercado”, concluiu.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não é possível mapear dados econômicos desse mercado porque não existe cadastro para esse tipo de empresa no CNAE (Classificação Nacional das Atividades Econômicas). Tanto que, segundo o governo do Estado de São Paulo, as casas podem ser registradas como bar, restaurante, lanchonete, discoteca, espaço de reunião, etc.
Swing não é bagunça e tem segurança
Outro ponto que atrai os swingueiros é a segurança que as casas têm. Marcos Rabelo, gerente da Asha Club, comenta que os estabelecimentos prezam pelo respeito e segurança total dos casais.
“Uma mulher hoje, por exemplo, é muito mais assediada em festas normais do que aqui. Os [nossos] clientes são mais conscientes”, disse Rabelo.
E esse é justamente um dos pontos que faz com que a administradora Alice Vilas Boas, de 28 anos, se sinta à vontade para frequentar as casas.
“Eu adoro porque, além dos atrativos, tem tudo o que eu gosto: música, balada, sexo e segurança […] Se você deixar claro que não está interessada em alguém, ninguém irá forçar. Ninguém é obrigado a nada”, afirmou a administradora.
Ela conta que mesmo tendo começado a frequentar casas de swing há menos de um ano, já é uma frequentadora assídua desses locais, com presença marcada nas festas pelo menos três vezes por semana.
“Mesmo que eu esteja envolvida sexualmente com alguém. Se outra pessoa chegar e eu disser: ‘não, valeu. Estamos tranquilos’, não tem problema nenhum. Eu nunca passei por nenhum tipo de situação desagradável”.
Alice Vilas Boas, de 28 anos
Alice Vilas Boas, de 28 anos, e Maria Edvania, de 35 anos, ao lado do marido Vanderson de França, de 46 anos — Foto: Arquivo pessoal
A estudante de enfermagem Maria Edvania, de 35 anos, e seu marido, Vanderson de França, de 46 anos, por sua vez, frequentam casas de swing há quase 9 anos. Ela também contou que prefere essas festas às baladas normais por conta da organização e da segurança.
“A parte de interação fica nos fundos ou no andar de cima. É bem organizado. Eu e meu esposo preferimos sair por Moema do que ir em um pancadão na nossa vila ou em um forró risca-faca. Lá [no swing] tem toda uma segurança que não vejo em outros lugares”. O casal mora em Carapicuíba (SP), cerca de 25 quilômetros de distância das casas de swing paulistanas.
Ela ressalta que o lema do “meu corpo, minhas regras” é muito bem aplicado. Edvania conta que os homens olham para ela e perguntam se podem se relacionar com ela e o marido. Caso tenha interesse, confirma, caso não, sem problemas. “O Vanderson sempre me deixou livre para escolher com quem eu gostaria que participasse [das relações]”.
“Eu sou exibicionista. Gosto de mostrar meu corpo e transar na frente de outras pessoas, mas isso não quer dizer que quero me relacionar com todo mundo ou que estou me oferecendo para qualquer um. E dizer não para um homem nunca foi um problema”
Estudante de enfermagem Maria Edvania, de 35 anos
O objetivo do casal é principalmente sair da rotina e conhecer pessoas novas. “Como existem ambientes coletivos, quem gosta de se exibir não tem nenhum empecilho. Agora, quem quer algo mais privativo, também tem as cabines privativas. No final, a casa de swing é o lugar que eu conheço que mais abraça qualquer tipo de público e traz segurança”, ressalta.
*Com informações de G1