UM PÉRIPLO FILOSÓFICO
Numa noite em Ribeirão Preto, onde eu morava e cursava a Faculdade de Direito, durante um sarau na “república” de uns amigos, fui surpreendido com a apresentação de um filósofo errante argentino, que vagava por vários países, comentando sobre o livro “O Pequeno Príncipe”, do piloto francês Antoine de Saint- Exupéry. Essa figura exótica e extremamente aventureira, contou-me que se aposentara como professor de uma faculdade argentina e decidira sair pregando mundo afora os conceitos filosóficos do francês como uma missão de vida mesmo. Sem apego a nada ou a ninguém e numa atitude humanística havia decidido oferecer de graça um pouco do seu conhecimento para quem quisesse ouvi-lo. E, numa dessas coincidências absurdas, topou com um “colega”, aspirante a advogado ou a músico, que aceitou o convite para acompanhá-lo naquela jornada cultural.
Lembro-me que, além de inúmeras casas particulares, centros acadêmicos e mesmo em alguns restaurantes mais sofisticados, o acompanhei, solando no violão músicas adequadas ao jargão filosófico do momento. Chegamos até a fazer algumas apresentações em Franca e Sertãozinho, cidades próximas a Ribeirão, tendo em seguida o errante filósofo desaparecido da mesma forma como havia surgido.
Dessa aventura, sobrou pra mim tornar-me um “pseudo-especialista” da obra do piloto francês. Uma boa herança do portenho, com certeza.
Roberto Hermeto Brandão – advogado e professor aposentado
Email: robertohbrandao@gmail.com
Belo Horizonte, 23 de agosto de 2020