Geração Z e a sua ansiedade do desconhecido
A Geração Z está enfrentando desafios únicos em relação à ansiedade, em grande parte devido ao seu comportamento altamente conectado e à falta de experiência prática em situações do mundo real
Recentemente saiu uma pesquisa realizada pela Intelligent, revista online voltada para o público universitário, com um dado que me chamou a atenção: quase 20% dos empregadores afirmam que recém-formados levaram um dos pais para a entrevista de emprego. Para quem não é da Geração Z, pode parecer algo descabido, certo? Por isso, quero trazer alguns exemplos e observações sobre esse dado e outros comportamentos.
A Geração Z está enfrentando desafios únicos em relação à ansiedade, em grande parte devido ao seu comportamento altamente conectado e à falta de experiência prática em situações do mundo real. É uma geração que vê tutorial na internet para tudo, aprendem e realizam uma variedade de tarefas dessa forma. No entanto, quando se deparam com situações onde não há um tutorial disponível, como uma entrevista de emprego, por exemplo, optam por levar os pais para essa ocasião, porque não sabem o que vai acontecer e o que esperar.
Vale dizer que não é só no ambiente de trabalho que esses jovens não estão sabendo se comportar. Ouvi recentemente que algumas universidades estão realizando reuniões com os pais desses alunos, pois eles estão precisando de ajuda e acompanhamento para realizar as atividades básicas da faculdade. Então, novamente, quero mostrar que essa dependência excessiva pode estar contribuindo para uma falta de autonomia e confiança entre os membros da Geração Z.
À medida que os jovens dessa geração entram no mundo adulto, eles enfrentam a pressão de tomar decisões importantes sobre carreira, educação e estilo de vida. Falei do que tem acontecido no mundo corporativo e também nas faculdades, mas esse comportamento ansioso também pode ser observado na relutância da Geração Z em frequentar restaurantes sem antes verificar o cardápio online.
Para quem não é GenZ, é difícil imaginar que uma cena simples do cotidiano, como chegar no restaurante, ver o cardápio, escolher o que quer comer naquela hora, pedir, pagar e ir embora, para eles vira quase que uma ‘fobia de restaurante’. O medo de não saber o que esperar pode ser tão avassalador que alguns indivíduos não estão conseguindo ir a restaurantes, porque eles precisam ver a foto dos pratos, já que aparentemente não conseguem imaginar o que é. Para completar essa ocasião incômoda, vem a ansiedade causada pelo preço do restaurante — se vai ser caro ou barato e se eles vão poder pagar por aquilo.
Poderia listar muitos outros acontecimentos e atividades da nossa rotina que estão tendo impactos diferentes nessa geração. Precisamos reconhecer que não é um problema individual, mas evidenciar a influência significativa que as redes sociais têm sobre o comportamento e a saúde mental da Geração Z.
Por isso, acredito que em um momento no qual a tecnologia permeia todas as relações e experiências, precisamos ensinar às novas gerações a ‘serem humanos’. Pode parecer estranha essa afirmação, mas precisamos ter um olhar atento com o futuro da educação e um foco expressivo no desenvolvimento das chamadas “soft skills”, ou habilidades interpessoais.
Sei que essas mudanças nos currículos levam tempo para acontecer, mas são elas que vão fazer com os jovens enfrentem esses desafios reais e obtenham sucesso pessoal e profissional em um mundo cada vez mais interconectado e diversificado.
*Daniela Klaiman é futurista com foco em comportamentos emergentes. Fundadora das empresas βeta e FutureFuture, faz consultoria e projetos para empresas analisando o comportamento do consumidor e futuro dos negócios.
*Com informações de Época Negócio