Por que Emilia Clarke ‘agradeceu’ chefões por cena de sexo em ‘Game of Thrones’

Atriz que deu vida à incrível Daenerys Targaryen foi vítima de acusações e assédio durante a primeira temporada da série de sucesso. Uma cena íntima entre Dany e Khal Drogo foi o início para a construção heroica da personagem

Não é uma questão de opinião, é fato indiscutível: ‘Game of Thrones’ foi um dos maiores sucessos televisivos da história. Ao decorrer das oito temporadas, muitos personagens ficaram marcados na história: Jon Snow, Cersei Lannister, Sansa Stark, Joffrey Baratheon e, logicamente, a Khaleesi, Daenerys Targaryen — interpretada por Emilia Clarke desde 2011 até o último episódio da série.

A jornada de Daenerys é uma das favoritas do público: iniciando como uma jovem e ingênua menina indefesa, presa pelos negócios do irmão a um casamento que (inicialmente) não queria — com o guerreiro Khal Drogo, do povo Dothraki —, ela evoluiu até se tornar a forte e independente Rompedora de Correntes e Mãe dos Dragões. A invencível guerreira — a Primeira de Seu Nome, como é chamada — levou tempo até finalmente vir a ser como a conhecemos hoje, cinco anos após o fim da série.

Para sair da posição submissa e inocente, muita dor foi sentida por ela. A primeira vez que vemos um relance de transformação nos olhos de Dany acontece ainda na primeira temporada — quando Khal ainda era vivo, durante um momento íntimo dos dois; que representou uma grandíssima virada de chave na narrativa da série, e que acabou por ser motivo de agradecimento de Emilia Clarke aos realizadores da superprodução.

As cenas de sexo em que Drogo se aproveitava de sua nova esposa não pegaram muito bem no mundo real. Na verdade, toda a construção inicial da personagem, marcada pela inocência e submissão, foram alvo de acusações sérias contra os produtores da série. Os telespectadores não tiveram dó nenhuma ao acusar ‘Game of Thrones’ de ser um programa misógino.

E, realmente, não dá para negar: a posição das personagens femininas no geral, no começo da série, são verdadeiramente questionáveis: com exceção de Arya Stark e talvez Cersei Lannister, quase todas as outras mulheres, principalmente Daenerys, eram acessórios para a narrativa de personagens masculinos ou simples ferramentas para chamar a atenção do público repleto de homens que acompanhava a saga, ao decorrer da primeira temporada. É claro que tudo isso mudou; esse tipo de visão acabou sendo extinta com o passar do tempo e as mulheres de ‘Game of Thrones’ triunfaram em poder. Mas até que isso acontecesse, passaram-se alguns episódios.

Quando Dany recebe a ajuda de outras mulheres do povo Dothraki, para surpreender Khal na cama, um novo horizonte para a personagem foi escrito; e as críticas contra a série começaram, aos poucos, a cair por terra. Basicamente, invertendo as posições de poder dentro do quarto, Daenerys calmamente ordena que Drogo se dispa, para que então possam deitarem-se juntos — com a Khaleesi no comando, é claro. O momento representou para Emilia um importante recado ao público que tanto criticava a série e até mesmo ela; não teve jeito, ela precisava agradecer aos chefões, que vieram com a ideia.

“Era brilhante! Eu cheguei a ir até eles [os criadores de GOT, David Benioff e Dan Weiss] e agradeci. Eu fiquei tipo: ‘Essa é uma cena que eu estava esperando’. Porque eu recebo muitos xingamentos por ter feito cenas nuas e cenas de sexo”, já declarou a estrela para a revista Elle americana.

Não são poucas as cenas em que Clarke aparece nua ou em algum momento picante ao lado de alguém na série. Infelizmente, Emilia foi vítima de muitos assédios online. Fossem pelos homens, que a objetificaram ao ponto de criarem imagens falsas da personagem ou espalharam cortes das cenas dela nua, despindo-a de personalidade ou mesmo de dignidade; ou ainda, das próprias mulheres, que acusavam-na de ser conivente ao comportamento machista apresentado na narrativa. A cena de Dany finalmente tomando o controle de sua própria vida — em uma cena de sexo — foi o suficiente para calar as críticas contra o programa.

Mesmo assim, os assédios masculinos não pararam — e não param, até hoje. Em uma entrevista de 2019, a atriz revelou que as cenas de nudez são absolutamente aterrorizante de serem feitas. “Eu aceitei o trabalho [GOT] e eles me mandaram o roteiro e eu comecei a ler ele, e aí percebi: ‘Ah, aí está a pegadinha'”. Ela continuou, dizendo: “Mas eu tinha acabado de sair da escola de atuação, e via isso tudo como trabalho: se está no roteiro, então claramente é necessário. É o que é e eu vou fazer isso com sentido, e vai ficar tudo bem”.

Ela ainda disse que nunca antes havia estado em um set de gravações como aquele, e que estar nua na frente de tanta gente desconhecida foi realmente um desafio. “E eu estou nua em um set cheio de pessoas… e eu não sabia o que eu deveria fazer, não sabia o que se espera de mim, o que vocês queriam de mim e o que eu queria”, contou. Em seguida, Clarke disse uma difícil verdade de se lidar: “Tendo nudez ou não, eu ia passar aquela primeira temporada pensando que não era digna de pedir por nada. Eu não era digna de precisar de qualquer coisa”.

Um dos momentos mais emocionantes por detrás das câmeras foi quando, em uma cena de quase-estupro, Jason Momoa, que interpretou Khal Drogo, e Emilia Clarke choraram juntos no set. O abuso sofrido pela personagem não era uma realidade apenas narrativa; ela se transferiu para o mundo real também.

Mesmo assim, Daenerys Targaryen continua sendo uma das mais fortes, inteligentes e perspicazes guerreiras que o mundo da fantasia já viu. Além da óbvia beleza e amabilidade, a Khaleesi é um retrato incrível de mulheres jovens que não têm medo do poder; muito pelo contrário: sabem muito bem como lidar com ele e tomá-lo para si.

*Com informações de Revista Monet