ÁGUAS PACÍFICAS
Quando desembarcamos em Guayaquil, no Equador, fui pegar minha mala na esteira e nada, ela havia sumido. Nessas horas a gente sempre pensa que é a maior vítima, que só acontece com a gente, que é um azar etc. etc., mas não é bem assim. Recomendaram-me voltar no dia seguinte e lá fui eu de ônibus pro hotel, com uma mão na frente e a outra atrás.
Banho tomado e a barba feita, troquei somente a roupa de baixo, única disponível na minha bagagem de mão e me mandei pra rua. E surpresa, novamente, mas desta vez da boa.
A cidade litorânea do Pacífico oferece, além das belas praias, uma variada gama de atividades de lazer, a começar por uma feira na praça, cheia de iguanas, em frente ao hotel. Esses lagartos horrorosos andam por lá, trançando pelas pernas de todos, como os nossos vira-latas, e ninguém nem dá bola. E são muitos.
Em BH sou arredio a essas feiras, nunca fui à da Av. Afonso Pena, originada na Praça da Liberdade, nem pra conhecer. Mas, vá lá, tô aqui mesmo, só e sem programa, vou enfrentar esta.
E andando por lá me encontrei com o Hélio, cearence e a Helena Margarita, linda colega de El Salvador, também vasculhando o belo artesanato equatoriano. Eram pratos, molduras e quadrinhos em cerâmica, tecidos de lã muticolorida e uma quantidade enorme de bonecos de todos os tamanhos, representando o povo andino. Entre tantas bugigangas eles ofereciam uma coleção completa de homens minúsculos até tamanhos normais. Eles se reproduzem porque se admiram, são orgulhosos de si mesmos. E ainda reparamos que ali, todos – menos nós, além dos gringos norte-americanos e mais alguns louraços, com certeza noruegueses, polacos ou alemães -, possuem os fortes traços da raça local, que é formada por gente simples, alegre, hospitaleira e colorida. As roupas deles são sui generis, cheias de bordados, tricôs, chales e lenços enrolados por toda parte do corpo, o que reflete um clima contagiante de alegria e felicidade. Eles parecem viver com um sorriso aberto para a vida.
Andamos por ali até chegarmos numa bela praia de areia escura e rochas íngremes, onde avistamos um restaurante panorâmico com um nome bem sugestivo: “Juan Salvador Gaviota”. Subimos a encosta e nos sentamos numa mesa de frente pro mar e o garçom nos apresentou um cardápio de frutos do mar excepcional. E brincamos: Esses camarões, lagostas e robalos devem ter um gosto diferente dos nossos porque habitam em águas “pacíficas”. Refestelamo-nos com as iguarias locais, acompanhadas por uma também saborosa cerveja.
Assim, passamos uma ótima tarde, pés descalços nas areias quentes do Pacífico. Foi um belo programa de domingo.
Ah! E a mala que havia sido extraviada fez uma escala em Santa Cruz de la Sierra, foi até La Paz, sobrou por lá e foi re-encaminhada para o passageiro brasileiro em Guayaquil. Arre!
Roberto Hermeto Brandão – advogado e professor aposentado
Email: robertohbrandao@gmail.com