Filme sobre Mamonas Assassinas revive o grupo que marcou os anos 90 e emociona atores e familiares dos músicos
Após a estreia nos cinemas, uma turnê vai lançar uma música inédita: uma continuação de “Robocop gay”, composta por Dinho e que nunca foi gravada
“Atenção, Creuzebek”, está chegando a hora de conferir nos cinemas “Mamonas Assassinas — O filme”, a primeira cinebiografia do grupo que marcou os anos 90 no Brasil. Sete anos depois de concebida, a aguardada produção ganha sua primeira exibição para o público neste domingo, em São Paulo, na Comic Con Experience (CCXP). A estreia oficial será no próximo dia 28, em mais de mil salas país afora, seguida pelo começo da turnê da banda Mamonas Assassinas — O Legado, da qual dois dos protagonistas do longa-metragem fazem parte.
Ao assistir ao filme, rodado pelo diretor Edson Spinello em Guarulhos, cidade da Grande São Paulo onde surgiu o grupo, a sensação que se tem é de que os cinco homenageados “baixaram” nos protagonistas, que interpretam todas as músicas, inclusive nas gravações ao vivo.
Como se estivesse a bordo da famosa Brasília amarela do grupo, o roteiro de Carlos Lombardi pisa no acelerador ao enfatizar na tela a alegria quase inocente dos Mamonas. E freia com delicadeza ao tratar do acidente aéreo que matou os músicos em 2 de março de 1996, menos de duas horas depois de se despedirem do público em Brasília, após um show. O vocalista Dinho, então com 24 anos, o tecladista Julio Rasec, de 28, o baixista Samuel Reoli e o baterista Sérgio Reoli, irmãos de 22 e 26, respectivamente, e o guitarrista Bento Hinoto, de 25, estavam prestes a partir para o que seria a primeira turnê internacional da banda. É difícil acreditar, mas foram apenas sete meses entre as primeiras apresentações deles, passando pelo sucesso estrondoso e por todas as aparições em programas de TV, e a tragédia que os tirou de cena.
No elenco principal do filme estão Robson Lima (Julio), Alberto “Beto” Hinoto (que interpreta seu tio Bento), Rhener Freitas (Sérgio), Adriano Tunes (Samuel) e Ruy Brissac (Dinho), que interpretou o mesmo papel no espetáculo “O musical Mamonas”, de 2016 (nessa peça, Adriano Tunes fez o Julio Rasec).
— Todo mundo dizia na época que eu era a cara do Dinho, mas eu mesmo discordava. Achava que tinha uma coisinha semelhante e só. Já no filme descobri algo maior: o paralelo entre a história dele e a minha, assim como a dos outros protagonistas. Todos viemos de cidades pequenas para tentar, nós também, realizar sonhos impossíveis. Cá estamos — diz Brissac, que, pela peça, recebeu o prêmio Bibi Ferreira de melhor ator revelação.
Elenco de “Mamonas Assassinas — O filme”
Continuação para o hit ‘Robocop gay’
Na turnê que começa após a estreia nos cinemas, Brissac e Beto estarão presentes. No repertório, além dos hits do único disco dos meninos que eram fanáticos por hard rock e progressivo, estarão letras jamais gravadas de Dinho, entre elas uma continuação de “Robocop gay” (veja abaixo). Também serão lançados dois discos, um deles com a trilha do filme.
Do baú dos Mamonas, com curadoria de Jorge Santana, de 50 anos, primo de Dinho e CEO da Mamonas Assassinas Produções, criada em 2015 para administrar a marca, surgiram as composições inéditas. Na “Robocop gay” original, com interpretação propositadamente afetada, o vocalista pedia ao ouvinte de forma direta, ainda que de um jeito talvez anos 1990 demais para o século 21: “Abra sua mente: gay também é gente”. Na letra da continuação, que será lançada com a nova turnê, o músico celebrava ter a certeza de que “agora vou arrasar, pois do armário eu pulei”.
‘Eles fizeram uma crônica do tempo deles’
Os tempos são outros, e as fronteiras entre o deboche e o politicamente incorreto também. Ainda entre as faixas do único álbum do grupo, o machismo e o mau gosto detalhista de “Uma Arlinda mulher” aparecem com frequência em listas de abusos imperdoáveis de canções (in)dignas da quinta série.
— Mas algo importante de destacar é o fato de que o humor dos Mamonas era inclusivo, na primeira pessoa, e por isso causava gargalhadas e sorrisos prazerosos de gente de todas as idades. Eles fizeram uma crônica do tempo deles, original e corajosa. E o que mais queriam era levar alegria. O sucesso deles veio desse objetivo simples, nem sempre fácil de se concretizar — aponta Jorge Santana, que recuperou em um leilão a Brasília amarela original da banda, aquela que ficava de portas abertas “pra gente se amar pelados em Santos”.
Concordando com a ideia de que os Mamonas fizeram uma crônica daqueles tempos, Brissac acrescenta que “Robocop gay” é, de todas as faixas, a sua favorita:
— É um grito de liberdade, um convite para a gente se despir. Quando Dinho canta “abra a sua mente”, eu ouço um recado pra você mostrar quem de fato é. Escutava e pensava: “Cara, a vida é muito curta, esqueça o julgamento do outro”.
‘Tudo o que alegrar os fãs é válido’
Antes de venderem três milhões de cópias de “Mamonas Assassinas”, o único disco lançado, os amigos se viravam como podiam em Guarulhos. Dinho era cabo eleitoral de candidatos a vereador. Samuel era office-boy, e seu irmão, Sérgio, geria uma locadora de games. Julio era técnico em eletrônica. E Bento trabalhava com ração para pets. No filme, no entanto, numa adaptação livre inspirada em fatos, o guitarrista aparece vendendo pastéis.
— O que é divertido, casa bem com nós ‘japas’ e vira uma piada dentro da piada. Mais Mamonas, impossível — diz Maurício Hinoto, de 56 anos, irmão de Bento.
Emoção de pai
Os números dos Mamonas impressionam. A banda tem mais de três milhões de seguidores em suas páginas oficiais nas redes e 1,3 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Nas cenas de shows do filme, estão fãs de carteirinha. Os gritos e os desmaios registrados pelas câmeras de Edson Spinello são reais.
— É claro que, nas filmagens, tudo voltou, foi impossível não se emocionar, especialmente ao conversar com fãs da idade do meu filho, me contando tudo o que viveram desde então. Pra mim, tudo o que alegrar os fãs é válido. É exatamente o que o Dinho queria — diz Hildebrando Alves, de 75 anos, pai do vocalista.
*Com informações de Extra