Crítica Asteroid City | O meticuloso vazio absoluto em tons pastéis
Gostar de filmes de Wes Anderson pode ser um caso de “gosto adquirido”. O diretor de O Grande Hotel Budapeste e Os Excêntricos Tenenbaums tem um estilo próprio de como fazer cinema, seja na fotografia de seus filmes, nos diálogos ou na forma como seus personagens se relacionam. Tudo é de um jeito meticulosamente calculado e é possível entender o seu apelo, mesmo quando esse estilo não é de seu agrado.
Asteroid City é um filme que tem todos esses elementos que saltam aos olhos daqueles que são fãs do diretor, mas raramente em sua carreira é possível ver um filme tão vazio de quanto esse.
No meio do deserto, existia uma cidadezinha chamada Asteroid City
Logo nos primeiros minutos de filme, você descobre que não está assistindo a uma história comum. Você conhece um apresentador, interpretado por Bryan Cranston (Breaking Bad), que revela que tudo o que você verá é uma apresentação de teatro. A peça, que se chama Asteroid City, foi encenada por mais de 700 dias e um programa acompanhará a sua criação e produção.
Paralelo a isso, vemos a trama da peça, mas em formato de filme. A história dela gira em torno de uma cidadezinha no meio do deserto que, anualmente, comemora a queda de um asteroide há milhares de anos.
Nessas comemorações, alunos prodígio são chamados para demonstrar seus experimentos e invenções. É então que conhecemos o fotógrafo de guerra Augie Steenback, vivido por Jason Schwartzman (Scott Pilgrim Contra o Mundo). Pai de quatro filhos, um deles que vai participar do evento, Augie acabou de ficar viúvo e não sabe como contar para as crianças.
Sim, só nesse pequeno detalhe, já percebe que Asteroid City, que parecia um filme esquisito, é na verdade muito esquisito.
Outros personagens são apresentados, como a atriz Midge Campbell, vivida por Scarlett Johansson (Viúva Negra), o sogro de Augie, vinterpretado por Tom Hanks, e vários outros conhecidos em um elenco genuinamente impressionante. E tudo em torno dessa cidadezinha, que acaba isolada pelo mundo após a visita de alienígenas ao local.
Eu avisei que o negócio era esquisito.
Uma comédia romântica que é pouco comédia e quase nada romântica
Asteroid City joga várias linhas de história com sua dúzia de personagens e participações especiais (impossível não apontar para a tela quando até o Seu Jorge aparece no filme), mas segue mais de perto Augie e Midge e um possível romance entre eles.
Em momento algum, os personagens parecem se comportar como pessoas de verdade, agindo de modo monótono e que não consegue expressar qualquer tipo de emoção humana. Felizmente, isso não é uma realidade com todos os personagens, sendo que os atores adolescentes e Tom Hanks são os únicos que parecem algo mais próximo de pessoas em todo o filme.
Se a maneira como os personagens interagem pode incomodar um pouco, a estrutura do filme parece ser o seu maior problema. Por ficar indo e voltando do seu esquema “isso é uma peça de teatro/isso é um filme”, as cenas parecem ser pequenas esquetes, sem muita ligação no fiapo de história que Asteroid City tenta ter.
Nenhuma cena realmente embala, o que prejudica muito no desenvolvimento de personagens e da própria trama. Coisas vão acontecendo e, quando não fazem sentido, o próprio filme tenta cobrir o buraco, geralmente de maneira desleixada.
Se, como romance, Asteroid City é bem fraco, como comédia, é possível chamá-lo de “ok”. É preciso ser sincero e assumir que algumas piadas do filme funcionam muito bem, principalmente pelo tom absolutamente absurdo da trama. Talvez por conta disso, o filme nunca chega a ser cansativo.
Um festival de atores aparecendo só para comer um salgado
Wes Anderson é conhecido, além do seu estilo de filme, pela extrema facilidade com que consegue atores de primeiro escalão de Hollywood para fazer absolutamente nada em seus filmes.
Asteroid City é mais um exemplo disso, já que além dos mencionados Schwartzman, Johansson, Cranston e Hanks, o longa ainda conta com Maya Hawke, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Willem Dafoe, Edward Norton, Steve Carell, Liev Schreiber, Adrien Brody e Margot Robbie.
Você pode pensar que todos eles têm personagens marcantes, mas o simples fato de ter todo esse elenco já deixa claro que é impossível dar destaque a todos e eles viram meros coadjuvantes de luxo que estão participando do projeto de um amigo.
Wes Anderson talvez saiba disso, já que algumas dessas participações acabam sendo usadas como pequenas piadas, que funcionam muito bem.
Asteroid City: um filme para iniciados
No final de sua 1h45min de duração, Asteroid City se mostra um filme esquisito. Não é ruim, ou sequer bom. Ele entra naquela zona de produções que podem não ser completamente do seu agrado, mas que têm um certo magnetismo que prendem a atenção do espectador.
Isso é claramente mérito de Wes Anderson, que novamente faz um filme totalmente seu, sem tirar nem por. Fãs do diretor devem gostar bastante de Asteroid City, mas ele tem o problema de ser vazio, mesmo sendo cheio de coisas.
É estranho falar dessa forma, mas mesmo com tantos elementos apresentados, a maneira como eles são trabalhados passam a impressão de que poderia ser um filme mais envolvente para o público geral.
Do jeito que saiu, Asteroid City só vai dar mais material para aqueles que criticam Wes Anderson, de que ele é só um amontoado de personagens estranhos em cenários e figurinos em tom pastel. Se em outros filmes, isso não chega perto da verdade, nesse parece ser um bom jeito de descrevê-lo.
*Com informações de Canal Tech