Por que 2023 pode ser o ano mais quente da história

Algumas partes do Brasil estão passando frio neste exato momento, mas não se engane — em 2023, o planeta está mais quente. A primeira semana de julho entrou para os recordes como a mais quente desde que começamos a tomar nota da temperatura e aquecimento global com termômetros, em meados do século XIX. O dia 3 de julho começou batendo recordes, mas o dia mais quente acabou sendo o 5, com média de 17,23 ºC. O último recorde havia sido quebrado em 2016, com 16,80 ºC.

Como você já pode ter adivinhado, as mudanças climáticas — causadas, principalmente, pelo ser humano — são as grandes responsáveis por esse aquecimento, que, neste ano, tem afetado locais próximos ao trópicos e o hemisfério norte, que ainda está em suas estações mais quentes. Ondas de calor vêm esquentando a Ásia, Europa e América do Norte como nunca antes. Especialistas afirmam que, mesmo que tomemos medidas drásticas contra isso, as temperaturas continuarão a subir.

Mais um El Niño

Em 2022, o verão também havia sido especialmente quente, e, neste ano, o aquecimento do Oceano Pacífico, conhecido como El Niño, retornou para deixar os mares mais quentes. Esse fenômeno deixa o planeta mais quente, mas deve ser apenas o começo por enquanto, já que o evento climático está só começando. Segundo o instituto de monitoramento Berkeley Earth, isso deixa 2023 com 81% de chances de ser o ano mais quente já registrado na história.

No Atlântico norte, outros fatores podem estar em jogo no aquecimento das águas, nominalmente poeira e enxofre — isto é, duas substâncias que geralmente refletem a luz solar para longe do oceano, e que estão em falta neste ano. Mais especificamente, elas são a poeira que sopra do deserto do Saara e os aerossóis sulfurosos do combustível de embarcações comerciais.

Nos últimos meses, níveis especialmente baixos de poeira saariana foram registrados, devido a ventos alísios anormalmente fracos, e novas restrições a navios impostas em 2020 diminuíram as emissões de enxofre. Embora esses fatores não expliquem todo o aquecimento do Atlântico, eles são certamente influentes na questão.

Anticiclones

Enquanto alguns lugares em terra recebem ondas de calor e secas com o aquecimento dos oceanos, outros recebem tempestades. A atmosfera mais quente suga umidade e a joga em outros locais, e muito das ondas de calor tem a ver com a duração e intensidade de anticiclones.

Anticiclones fazem parte do aquecimento do planeta, já que podem absorver e enviar umidade para outros locais e gerar ondas de calor, que podem ficar presas (Imagem: WikiImages/Pixabay)
Anticiclones fazem parte do aquecimento do planeta, já que podem absorver e enviar umidade para outros locais e gerar ondas de calor, que podem ficar presas (Imagem: WikiImages/Pixabay)

Áreas estagnadas com alta pressão fazem o ar “afundar” e aquecer, desfazendo nuvens, deixando muita luz do sol secar o solo — mantendo o calor efetivamente preso por semanas em certas regiões. É o que está acontecendo na Europa neste momento, por exemplo.

Todos esses fatores, é claro, estão relacionados às mudanças climáticas, como apontado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) em seus últimos reportes. Já não enfrentamos apenas as oscilações naturais do clima, e estamos começando a enfrentar temperaturas e situações desconhecidas e mais extremas do que nunca.

O El Niño pode deixar a Terra ainda mais quente em 2024 — o que pede por ações mais imediatas, como reduções profundas e contínuas de emissões carbônicas por combustíveis fósseis, por exemplo. Mesmo assim, ainda teremos de enfrentar ondas de calor mais severas no futuro.

Fonte: Berkeley EarthIPCC

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