PARIS, JE T`AIME
Cheguei a Paris às dez da manhã, hora local, depois de um voo tranquilo BH/São Paulo, com escala em Dacar. Meu compadre e amigo Flávio já me esperava no aeroporto com um guarda-chuva debaixo do braço. Era Primavera e chovia muito. Ele vinha da Indonésia, onde havia participado da comitiva do Atlético Mineiro. Disse-me ele: “Como sempre tivemos vontade de morar aqui, aproveitei a oportunidade e aluguei um apartamento em Montparnasse, rue Robert des Fleurs, em sua homenagem. O “flat” era uma gracinha, com boa sala, cozinha acoplada, e dois quartos confortáveis separados por um banheiro. Muito legal mesmo! E uma vista panorâmica de Paris que não tinha preço! Sobre os nossos afazeres naquela missão não vou tratar. Vou falar somente do bem-bom de estar na Cidade Luz por um período, junto okcom um irmão de coração. Nossa rotina era bem simples, de moradores mesmo, que conheciam todos os seus vizinhos: o Pierre, da padaria, o Charles do açougue, que nos fornecia, sorridente, uma “côte dagneau” fresquinha ou um “canard” semipronto e desossado pra cair direto na panela; e ainda, o Alain, que nos conduzia no seu velho táxi Citroen 2CV, para os passeios à Av des Champs Elysées, Pigalle e outros antros na Av Foch e rue de Russie.
Os turistas, já ouvi muitos, comentam sobre o mau-humor dos parisienses, seus gestos bruscos e mal educados, mas não são nadadisso. São adoráveis criaturas que convivem muito bem com todo mundo, tratam seus amigos como reis e vivem bem humorados, felizes da vida fumando seus Gauloises fedorentos, sendo também grandes apreciadores dos bons vinhos e pratos sofisticados. Eles sempre têm uma receita nova para ensinar ou um bom vinho para indicar: “Safra recente, mas muito equilibrada em cheiro e sabor.”
E, logo no segundo dia, Flávio convidou um amigo, o Gerome, para jantar. Me disse ele: “Brandão, vou preparar uma comida bem mineira pro Gerome, e você podia me fazer o favor de ir se encontrar com ele no lobby do hotel aqui ao lado. Não tem erro, o Gerome é filho de japoneses e é só você bater o olho que ele estará lá para encontrá-lo.”
Moleza! – pensei. Atravessei a rua, entrei no Hotel NIKKO e me postei no balcão do bar em frente ao lobby para esperar o Gerome. Acontece que o NIKKO era um hotel japonês, aonde todos os que
entravam e saíam eram japoneses. Simples, pensei, vou relaxar e deixar o Gerome-japonês me encontrar. Pedi mais um Beaujolais e pitei um Gauloises para me incorporar no cheiro e no clima parisienses.
Roberto Hermeto Brandão – advogado e professor aposentado
Email: robertohbrandao@gmail.com