Novo filme da Netflix vai deixar o espectador completamente desconfortável e desnorteado

A polarização política sempre existiu, mas nos últimos anos temos visto um espetáculo de horror e ódio. Se no Brasil, nas últimas eleições, as pessoas trocaram tiros e facadas por causa de políticos A e B, nos Estados Unidos, o resultado das urnas culminou em uma invasão ao Capitólio que deixou cinco mortos. As notícias são absurdas. E apesar de lá na terra do Tio Sam a briga não ser entre esquerda e direita, mas entre uma direita mais moderada e outra direita mais extremista, em 2020 foi lançado o filme “A Caçada”, uma sátira violenta e conspiracionista de toda essa guerrilha ideológica.

Se você é interessado em política ou um entusiasta das discussões, mesmo que nas redes sociais, vai gostar do que “A Caçada” tem para oferecer. Dirigido por Craig Zobel e escrito por Nick Cuse e Damon Lindelof, o filme narra a história de 12 desconhecidos que são sequestrados e lançados em um jogo de gato e rato, chamado Manorgate. Essas pessoas fazem parte de uma classe mais pobre e conservadora, ou seja, da direita mais extremista norte-americana — aqueles que acreditam em teorias da conspiração, Terra plana, que o aquecimento global é uma farsa, são racistas e homofóbicos e coisas do tipo —, e são selecionados a partir de seus perfis em redes sociais, o que compartilham e o que consomem. Eles são dopados e levados por um grupo de uma elite americana mais moderada, que acredita em veganismo, inclusão social, apropriação cultural, aquecimento global etc. Esse grupo liberal é liderado por Athena (Hilary Swank) que segundo os conspiracionistas, promove a tal caçada esportiva contra conservadores em uma mansão sua em Vermont.

O jogo ganha, de seus realizadores, uma comparação com “A Revolução dos Bichos”, livro de George Orwell, publicado em 1945, e que fala sobre uma revolta em uma granja, em que os animais se rebelam contra o líder humano, o senhor Jones. Os porcos, que se consideram superiores em inteligência, acabam controlando aquela pequena sociedade de animais e um deles se torna igualmente opressor, explorando o trabalho dos demais. Bola de Neve era um porco idealista e que acreditava em justiça social, mas que acabou sendo expulso da granja pelo novo líder autoritário, Napoleão. No filme, a protagonista, Crystal (Betty Gilpin) é considerada a Bola de Neve, mas para o azar dos organizadores do jogo, ela não é conservadora e tem uma vasta experiência em sobrevivência por ter servido no Afeganistão. Confundida com uma homônima de sua cidade, ela desperta no jogo para destruir toda ameaça contra sua vida, independente do lado político em que está.

“A Caçada” promove uma propaganda pró-isenção, apesar de inúmeras comparações nos Estados Unidos ao brasileiro “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. No jogo de sobrevivência, segundo o filme, apenas quem não está “cego” por seu posicionamento ideológico é capaz de sobreviver. É claro que a produção cinematográfica é apenas uma ficção e uma metáfora do mundo em que vivemos hoje, além de uma crítica aos extremismos políticos. O filme transforma em entretenimento a violência que infelizmente já se vê entre os dois lados e, por isso, acabou tendo seu lançamento adiado de setembro de 2019 para março de 2020, após tiroteios nos Estados Unidos. O atraso acabou prejudicando a bilheteria por conta da pandemia de Covid-19 e a janela entre o filme e a sua disponibilidade para locação on-line encolheu para 48 horas. Ou seja, apenas dois dias após o fim da exibição nos cinemas, já era possível ver ele da televisão de casa. Um filme capaz de misturar diversão e entretenimento com reflexões políticas e sociais, “A Caçada” merece uma hora e trinta minutos de seu tempo para se fazer uma análise antropológica da atualidade.


Filme: A Caçada
Direção: Craig Zobel
Ano: 2020
Gênero: Ação/Suspense
Nota: 7/10

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