Os medos e angústias presentes na fase do desfralde

Temido por trazer inseguranças, o período de adaptação – conhecido como desfralde – pode causar problemas como a constipação, se ensinado da forma incorreta

O desfralde constitui um dos grandes desafios da primeira infância e se dá pelo ato do bebê deixar de usar fralda e passar a usar o vaso sanitário para fazer suas necessidades fisiológicas. Costuma acontecer entre o segundo e o terceiro ano de vida e, por isso, é regado de dúvidas e inseguranças, tanto para os pais quanto para os filhos.

Apesar de se tratar de uma grande mudança de hábito, a fase não precisa ser vista como um bicho de sete cabeças. De acordo com o gastropediatra Henrique Gomes, é comum que muitos pais se iludam achando que crianças irão aprender mais rápido com ordens e restrições, quando na verdade elas compreendem as mudanças olhando exemplos ao seu redor.

Por isso, a dica da vez é fazer como elas: agir por meio da observação. Uma criança preparada para o desfralde apresenta sinais curiosos, como: falar aos pais sobre sentir vontade de fazer cocô e xixi, começar a reclamar da fralda suja ou até mesmo mostrar interesse em entender como fazer o uso do vaso sanitário.

Por lidar com distúrbios gastrointestinais, o especialista alerta que muitas crianças desta fase tendem a ficar constipadas por um simples motivo: vergonha. “Imagine que você é uma criança que sempre usou fraldas e do dia para a noite lhe dizem que você deve avisar toda vez que sentir vontade de fazer xixi. Vivendo há anos sem nunca se preocupar com isso, é esperado que você se esqueça e só avise depois que já tiver feito. Logo, como você se sentiria se levasse broncas por isso?”, questiona.

O pediatra ainda ensina que não adianta apressar os pequenos, pois o período de desfralde é apenas mais um dos vários momentos de adaptação vividos por uma criança. Portanto, não deve ser ensinada pelo uso do medo.

Contudo, é certo que mudanças como esta exigem amadurecimento físico e emocional infantil. Toda criança deve aprender a entender os próprios sinais do corpo. Seja enquanto estiver dormindo ou brincando, se bem orientada, ela vai observar suas necessidades e pedirá auxílio sempre que sentir que algo vem por aí. Ou seja, jamais faça piadas com odor e não a proíba de voltar a brincar se ela fizer alguma necessidade e só avisar depois. Por fim, e mais importante: não a force a se sentar no banheiro sem que o ambiente esteja preparado para ela. Crianças são pequenas, sentem medo de cair no vaso e isso faz com que elas fiquem nervosas, dificultando ainda mais o processo de evacuação.

Nesse sentido, é importante que nesta fase seja garantida a segurança e o conforto do bebê ao sentar-se no vaso sanitário. Evacuar é um ato fisiológico que exige posições para fazê-lo da melhor maneira possível. Assim, adquirir um penico em formato de vaso sanitário pode ajudar neste processo, bem como a utilização de um vaso sanitário do tamanho infantil. Ou, como forma mais prática e com menor custo para essa transição, a utilização de redutores de assento do vaso sanitário em conjunto com uma escadinha, podem ser ótimas ferramentas de apoio para os pés da criança.

Dicas para ajudar o bebê quando ele der sinais para o desfralde:

● Iniciar o desfralde diurno, deixando o bebê dormir de fralda. Quando o desfralde durante o dia estiver estabelecido, o desfralde noturno ocorrerá de forma mais natural;

● Deixar a criança sem fralda por algumas horas quando ela estiver em casa;
● Nunca brigar se a criança fizer as necessidades na roupa. Aproveitar o momento para, carinhosamente, ensiná-la sobre a importância da sinalização e uso do vaso sanitário ou penico;
● Parabenizar quando ela conseguir êxito no processo;
● Lembrar a criança de ir ao banheiro;
● Usar recursos lúdicos que estimulem o desfralde, assim como livros infantis e brinquedos que abordem o tema.

Sobre o Dr. Henrique Gomes – Pediatra da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal desde 2008, Henrique é pós-graduado em Lato Sensu em Doenças Funcionais e Manometria do Aparelho Digestivo no Hospital Israelita Albert Einstein. Residência médica em pediatria pelo HMIB (2006 e 2007), além de atuação na área de Gastropediatria pelo HBDF (2008 e 2009), o profissional atua na área de Gastroenterologia Pediátrica, especialidade que auxilia o pediatra na assistência de crianças e adolescentes portadoras de sintomas relacionados ao aparelho digestivo, como náuseas, vômitos, diarreias, alergias aos alimentos, dores abdominais, constipação intestinal, entre outros.

Atualmente é pediatra da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal desde 2008; pediatra do Grupo Santa (Hospital Santa Lúcia Sul e Taguatinga) e pediatra das clínicas PedCare e Gastrus Clinic.

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