A história do turbo

E aí meus amigos apimentados, prontos pra mais um bate papo conosco do Perda Total? #Quintou e trazemos um texto fresquinho sobre o turbocompressor e sua história que, pode não parecer, mas começa bem antes da moda downsizing e dos maravilhosos esportivos turbinados que apareceram na década de 80 e 90.

Talvez o caro leitor nunca tenha dirigido um carro turbo, ou mesmo nunca tenha percebido isso, mas saiba que ele está presente em mais locais do que se imagina. Sabe aquele ônibus pacato que você anda todo dia? Pois é, ele é turbo! e graças a essa tecnologia, os ônibus modernos poluem menos e consomem menos. Não foi diferente dos automóveis ciclo otto (à gasolina ou etanol) que ao longo dos últimos anos tem ficado menores, mais eficientes e potentes.

A história desse componente mágico data de 1905 quando o suíço Alfred Buchi mergulhou em busca de solucionar um problema dos aviões, que na época utilizavam motores semelhantes ao dos carros: alternativos. Esses motores perdiam rendimento com o ganho de altitude. Isso fazia com que esses modelos de aeronaves fossem limitados a médias altitudes, além de possuírem baixa capacidade de carga.

Para solucionar esse problema, Alfred desenvolveu um mecanismo que aproveitava os gases provenientes do escapamento, reaproveitando a energia cinética para movimentar um “ventilador”, que por sua vez que era conectado a outro “ventilador”. Este último faria a “reposição” de vazão perdida devido a altitude. Obviamente se você já ouviu falar de um turbocompressor essa ideia parece muito lógica, mas lembre-se: isso aconteceu antes da Primeira Guerra Mundial.

O primeiro motor “turbinado” só foi efetivamente testado em 1920, quando um avião adaptado com o sistema alcançou incríveis 10.000m, um feito sobrenatural para a época. O experimento quase deu errado porque o piloto, devido a altitude e falta de oxigênio, perdeu a consciência!!! Felizmente ele conseguiu pousar a aeronave, provando que o sistema funcionava.

Já em 1925, o turbo foi utilizado pela primeira vez num motor diesel de navio, para aumentar o rendimento e a potência. O experimento deu tão certo que após isso o turbo começou a ser utilizado também em locomotivas movidas a diesel, além de em diversas máquinas estacionárias.

No campo da indústria aeronáutica a utilização do turbo decolou, com o perdão do trocadilho, durante a segunda guerra mundial, onde fez-se necessário a utilização cada vez maior da altitude nas aeronaves, tornando a invenção de Alfred uma peça primordial para o desempenho desses aviões.

Obviamente as montadoras de veículos também tentaram utilizar o produto revolucionário, iniciando diversos testes para veículos de produção desde 1950, porém sem muito sucesso. Até que em 1962 a GM lançou o Oldsmobile Jetfire e o Chevrolet Corvair Monza Spyder, marcando assim as primeiras unidades de passageiros em produção com motor turbinado.

Como vários outros lançamentos, esses modelos foram um fracasso. Isso se deu devido ao sistema inovador e soluções fora da curva para a época. A montadora instalou um sistema de alimentação no seu motor turbo rocket, onde era necessária a compra de um fluido misterioso chamado turbo rocket fluid, para suprir a alimentação na fase turbo. Sem essa “ajuda” extra, o motor não pressurizava. Logo, a potência máxima não era entregue. Logicamente isso encareceria o preço por km rodado, e também o custo de manutenção para uso do veículo. Um ano depois do lançamento as concessionárias já ofereciam gratuitamente a retirada do acessório e o modelo afundou nas vendas até ser retirado do catálogo.

A próxima tentativa de utilização em massa de um carro usando motor turbo seria em 1965, num jipe americano chamado International Harvester Scout 2.5l Turbo, que esbanjava 110cv! Infelizmente esse carro obtinha péssimas marcas de consumo de combustível, o que fez o modelo ter seu motor substituído por um v8 aspirado, mais econômico, anos após seu lançamento.

Em 1973 a BMW lança seu primeiro carro em produção turbo. Trata-se da icônica BMW 2002 Turbo que, apesar dos problemas, inaugurou a utilização da injeção mecânica aliada ao conjunto sobrealimentado, que significaria um salto de qualidade no gerenciamento de combustível e, logicamente, na eficiência do conjunto. Infelizmente, para prevenir a pré-detonação, a taxa de compressão dos cilindros utilizada era muito baixa, fazendo com que o turbo lag (tempo que o sistema demora para entregar potência) fosse enorme e a condução do veículo absurdamente arisca e imprevisível. Aliado a isso, a crise do petróleo terminou por afundar as vendas.

Em 1975 a Porsche lançou o, talvez, veículo mais importante dos últimos tempos: o Porsche 911 turbo! Ele juntava tudo que um bom esportivo precisaria ter: potência, design e estilo. Finalmente os carros turbo ganharam uma relevância e o público começou a associar a potência, esportividade e tudo que hoje temos de percepção desses veículos.

Apesar da mudança de percepção desse tipo de motor, ainda era algo muito restrito e caro de ser pago. Por isso, em 1977 a Saab lançou o 99 Turbo, um carro “acessível” para o público, sem que fosse um super esportivo com os 911 eram.

Já em 78, tivemos o primeiro lançamento de um veículo turbo diesel: o Mercedes 300 SD, provando que os motores sobrealimentados vieram para ficar e aplicados, mesmo aplicados com outros tipos de combustíveis. Ainda na década de 70 tivemos o lançamento de diversas motos utilizando motores desse tipo.

A década de 80 marcou o lançamento do Maserati Biturbo, que levava não só um, mas dois turbos no mesmo motor. Os anos 1980 foram o ápice da era turbo, quando diversas marcas e modelos começaram a adotar o sistema, além de várias categorias do automobilismo, incluindo a Fórmula 1.

Logicamente, com o crescimento da utilização, também foram detectadas diversas oportunidades de melhoria nos turbocompressores, como: turbos de geometria variável, de baixa inércia, sequenciais, etc. O próximo passo foi associar esse sistema não só à esportividade e desempenho, mas também à redução de poluentes, consumo e eficiência dos motores convencionais. Com isso as turbinas inauguraram a era do downsizing, que vivemos hoje.

E você, caro leitor, acha que os motores turbinados serão o futuro?!

William Marinho, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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