Redução no IPI e o impacto no mercado

Meus caros apimentados: uma excelente quinta a todos! Vocês devem ter visto na TV ou lido sobre a redução que o Governo Federal implementou no Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. A redução vale para diversos seguimentos e pode chegar a 25%. No setor automotivo a queda foi de 18,5 %. UAU! Finalmente os preços vai cair! Calma meu filho… Não será assim… “Mas por quê?” Se você tiver paciência, e prometer não chorar, eu explico.

Automóveis são produtos complexos. Em sua cadeia de fabricação estão presentes subprodutos e matérias primas de diversos setores da indústria mundial. Basicamente, os preços dos carros subiram porque tudo subiu. Uma eventual redução nos valores passará por uma solução macroeconômica, muito mais complexa do que a simples redução de um imposto. Você pode se lembrar de 2008, quando o Governo Federal reduziu o IPI e os preços dos carros caíram consideravelmente. Sim, de fato. Mas em 2008 a redução foi maior, os carros eram outros, o cenário era outro, e nosso mundo era outro.

Agora, nos idos nos anos dois mil e covid, dificilmente sentiremos algum impacto. Ok, A Toyota já divulgou redução no preço de alguns modelos, e a Ford anunciou redução no preço do Mustang, que passará de 3 fortunas para somente 2,75 fortunas. Mas nos populares… A verdade é que a curto prazo, se os preços se estabilizarem já é uma vitória. Mas e a médio e longo prazo?

Bom, a médio e longo prazo a redução do IPI pouco importa. Mas o impacto da queda das vendas que originou a redução, essa sim tem um peso enorme. Para entender, vamos voltar um pouco no tempo. Durante os anos do governo militar nosso mercado automotivo ficou completamente isolado do mundo. No fim dos anos 80 estávamos 30 anos atrás dos grandes mercados em relação aos modelos, tecnologias, design… Na década de 1990 tudo mudou. O país se abriu. Dezenas de novas montadoras começaram a importar seus carros para o Brasil, ou até mesmo produzi-los aqui. Tínhamos modelos vendidos simultaneamente aqui, na Europa e nos Estados Unidos.

Aí veio o início da desvalorização do Real. Isso, aliado a características do nosso mercado automotivo e a algumas mazelas das montadoras, derrubou o nosso interesse em alguns importados. Então entramos em uma nova fase de defasagem de modelos e tecnologias. Novos carros surgiam na Europa e EUA, e nós continuávamos com carros da década de 1990, com novos faróis e lanternas.

Na última década algumas mudanças na legislação, como a obrigatoriedade de air bags e ABS, e nas reduções de emissão de poluentes, forçaram a retirada do mercado de alguns desses modelos “antigos”. Então nosso mercado voltou, por um breve período, a “andar junto” com o mundo. E agora? Bom se eu tiver que chutar, diria que vamos mergulhar novamente em uma defasagem.

“Mas a redução no IPI vai causar essa defasagem?” Não, claro que não. A redução no IPI não é a causa, é o sintoma. Ela mostra que o governo continua adotando soluções paliativas e simples para problemas duradouros e complexos. O famoso “por band aid em buraco de bala”. Com isso nosso poder de compra vai continuar caindo, e os carros vão continuar ficando mais caros, mesmo que seu valor absoluto não aumente. Desse jeito quem tem um sedã médio vai trocá-lo por um sedã pequeno quando chegar a hora, quem tem uma picape grande vai trocá-la por uma menor… e por aí vai.

E quem tem um SUV? Bom, quanto aos SUVs… Vou ser mais ousado na previsão. Acho que essa SUVização do mercado que vivemos perderá força. SUVs são mais caros de fabricar, transportar e vender quando comparados a hatches, sedãs e peruas de mesmo porte. Quer um exemplo prático? O T-Cross é o SUV do Virtus, que por sua vez é o sedã do Polo. Todos são carros pequenos. Sim: a “família” Polo é pequena, pois a “família” de carros médios da VW é a do Golf, Jetta, Tiguan… E quando a VW tirou o Golf de linha no Brasil lançou o T-Cross, pelo mesmo preço…

Então se você é uma montadora e quer manter as vendas sem subir os preços, o que você faz? Oferece produtos de fabricação mais barata! Logo, não se surpreendam se a década de 20 trouxer novos sedãs e peruas pequenos…

Se a sua imaginação não estiver fértil, deixamos aqui uma projeção de um Renault Kwid perua, feito pelo pessoal da página Wagonslovers!

Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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