Razão, emoção ou moda: quem você deve ouvir na hora de comprar seu carro?
Cinco anos atrás eu estava em um local de mudança radical na minha vida. Minha primeira filha tinha acabado de nascer, e com ela algumas necessidades que não existiam antes. Trocamos nosso apartamento por um maior, móveis, roupas, medicamentos… Tudo na vida mudou. Na época eu tinha um carro antigo que eu comprei para participar de eventos de automobilismo amador, os famosos Track Days, onde você tem a oportunidade de correr com seu carro, com segurança, em um autódromo. Falaremos mais sobre isso futuramente.
Voltando ao meu carro: não quero parecer saudosista, e pretendo passar longe das lamúrias da crise de meia idade, onde pais usam o mantra “quando eu era jovem…” ESQUECE! De todos os carros que tive, esse foi o que menos gostei. Na verdade, eu o detestava! Era pequeno, apertado demais pra mim… Então, para a sorte da parte automotiva do meu ser, minha filha trouxe a necessidade de um carro maior. Eu, amante de banheiras e SUVs gigantes, vendi a surpresa do Kinder ovo que eu tinha na garagem, contei as moedinhas e caí no OLX.
O orçamento era de R$ 30 mil. Os requisitos eram: não ser muito rodado, ter no máximo 8 anos, e ter mecânica o mais simples possível (o que excluía qualquer carro à diesel). Depois de filtrar muito, cheguei em dois modelos: Hyundai Tucson e Chevrolet Blazer, ambos na faixa de 2008 a 2010. Tendo os finalistas definidos, chegou a hora do anjinho sentar em um ombro e o capetinha no outro… Como decidir?
Então entram em campo a razão e a emoção, e começa aquela velha disputa. Compro o mais econômico, confiável, confortável? Ou compro aquele que eu sempre quis? Em uma rápida análise, a Tucson parecia levar o troféu da razão. É um carro construtivamente mais moderno, mais seguro. Seu projeto é em torno de 20 anos mais novo que o da Blazer. A Tucson tem mais espaço no banco traseiro, mais conforto para todos seus ocupantes. A versão 2.0 tem mecânica simples, e a versão V6 não tem histórico de quebras, apesar de possuir manutenção pouco mais cara.
E a Blazer? Bom, meu amigo, é aí que a coisa complica… Eu aprendi a dirigir em uma Blazer. O modelo 1996 V6 que meu pai comprou zero foi o primeiro carro “diferente” da família, que antes vivia como a maioria dos Brasileiros: Fusca, Corcel, Kadett… Eu adorava aquele carro. Depois tive muito contato com vários modelos de S10. Como se não bastassem as memórias, a Blazer possui uma construção antiga, de SUV clássico, com câmbio manual e tração traseira. Meu tipo de carro. Mas, é instável, insegura e, pensava eu, mais beberrona.
E aí, Antonio: como sair desse impasse? Parece complicado, mas é simples! Você precisa se conhecer bem. Todos nós temos essa batalha de razão contra emoção, o tempo todo, em tudo. Seja quando alguém no trabalho pisa no nosso calo, ou quando planejamos uma viagem. É preciso buscar o equilíbrio, onde você se sente bem consigo mesmo sem acabar com o saldo da sua conta bancária. Coloque seus sonhos na ponta do lápis para definir o quão você consegue realizar, ou se será necessário postergá-los.
Para mim a resposta foi fácil! As Tucson V6 exigem as manutenções preventivas mais caras em torno de 70 mil km, quando é necessário trocar as correias dentadas e velas. Eu não encontrei nenhum modelo em bom estado e com garantia que essas manutenções tinham sido feitas. Já as Tucson 2.0 são excelentes de manutenção, mas lentas que dói. O motor é fraco para o carro e o câmbio de 4 marchas não ajuda. Seria outro carro que eu detestaria, xingaria ele em cada troca de marchas.
Então vamos a Blazer. As versões gasolina ou flexpower (gasolina e etanol) usam um motor 2.4 4 cilindros, conhecido como Chevrolet Família 2. Basicamente o mesmo motor, com algumas mudanças, de: Monza, Kadett, Omega, Astra, Vectra, Zafira… Logo, motor não seria problema. O consumo é semelhante a qualquer Tucson. E, de quebra, era o que mais satisfazia o capetinha no ombro. Abracei a Blazer!
“Antonio: você esqueceu da moda!” Não esqueci, é você quem precisa esquecer. Pode parecer aqui, se você conhece um pouco sobre carro, que se eu fosse seguir a moda eu teria comprado uma Tucson. Não. Se eu ligasse algo para a moda do mercado automotivo eu teria colocado Renault Duster e Ford Ecosport na lista. Com o mesmo orçamento eu poderia comprar qualquer um dos dois, 3 ou 4 anos mais novos que Blazer e Tucson. Ou ainda teria me apertado mais e financiado um Honda HR-V zero km. Por que não fiz? Porque compro carro para eu usar, e não porque o vizinho de vaga do prédio tem um igual.
Não quero aqui provar que você está errado porque comprou um HR-V. É um bom carro, tem suas qualidades. Só quero te mostrar que você não precisa ter um “suv” (entre aspas mesmo) porque é a moda do momento. Superado esse passo, use sua razão como ferramenta para entender quanto da sua emoção é fundada e alcançável, para, assim, você fugir dos dois extremos clássicos: comprar o carro dos sonhos e não aguentar o financiamento, ou comprar um carro que cumpre os requisitos mas não te empolga.
Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.
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