Preconceitos automotivos
Preconceitos são características intrínsecas ao ser humano, não há como negar. Assim como não se pode negar que preconceitos são, na sua grande maioria, burros. Isso quando não são criminosos… Máquinas, tecnologias e etc. também sofrem com nossos preconceitos. Provavelmente você já deixou de comprar um celular de uma marca X porque era chinês, ou deixou de comprar um notebook porque ele era cinza, e o preto está na moda. Então, é lógico que os carros também são atingidos…
Mas fique tranquilo, não vou ficar aqui tentando te convencer a comprar algo que você não goste. Minha missão nesse terreno de preto no branco é simplesmente te mostrar que preconceitos automotivos são burros, frutos de modismos ou boatos, e que na maioria das vezes te levam a comprar algo que não te atende tanto quanto os infelizes rejeitados.
Dividindo esses preconceitos automotivos em categorias, podemos citar o preconceito de origem, de cor, de tipo e de tecnologia. Partindo do mais simples e amplo: o preconceito de origem. Durante anos ele ficou adormecido aqui no Brasil, até que a onda dos chineses chegou, lá em 2010. Na época, muitos comparavam os chineses de 2010 aos coreanos da década de 1990, e diziam que em breve todos desejaríamos carros chineses. Do mesmo modo que o preconceito era burro, a comparação simples e linear não fazia jus a verdade: os coreanos de 1990 não tinham tantos defeitos quanto os chineses de 2010.
Mas, parte dessa comparação está se concretizando. 11 anos depois temos alguns chineses que realmente mostram uma evolução absurda quando comparados aos seus antepassados sino-tupiniquins. É cedo para dizer se eles vão conquistar o mercado como Hyundai e Kia fizeram há 15 anos, mas é possível.
Os preconceitos contra cor e tipo tem origens similares, e se misturam. Atualmente ninguém compra carros com duas portas (praticamente nem se vende mais por aqui…), ou de cores que não sejam branco, prata ou preto. Mas, voltando 25 anos no túnel do tempo, até meados da década de 1990 os duas portas eram preferidos por nós. Duvida? Deixa eu te dar uns exemplos então: o que a VW Parati quadrada, Chevrolet Caravan, Chevrolet Marajó e Ford Belina tem em comum? Todas são peruas, carros de família, e não tiveram versões com quatro portas. Pelo menos não original, de fábrica. Ou seja: Até meados dos anos 90 as pessoas compravam carros para a família, com duas portas. Quer saber por quê?
Porque se dizia à época que carros de quatro portas eram “carros de taxista”. Assim, se você tivesse um carro quatro portas ia ser muito difícil vende-lo após anos de uso, pois todos iam acreditar que se tratava de um táxi aposentado. Para evitar esse sofrimento você comprava um carro imenso, como uma Caravan, e enfiava seus quatro filhos no banco traseiro por um espaço triangular, acessado pela porta dianteira… Tem muita lógica nisso!
Da mesma maneira, na época os carros brancos eram minoria. Por quê? Porque na maioria das cidades brasileiras os táxis são brancos. Pelo mesmo motivo, em alguns lugares, como no Rio de Janeiro, ninguém comprava carros amarelo-ovo (compreensível, né…). Por volta de 1998 eu conheci um cidadão que tinha um Voyage quatro portas, como o da foto (sim, existiu). E o carro era amarelo… Não gema de ovo, mas amarelo. Era comum as pessoas fazerem sinal para ele na rua, achando que se tratava de um táxi. Não sei o que se passou com esse carro, mas certamente vende-lo não foi fácil…
Enfim, 15 anos depois, na década de 2010, os carros de duas portas, como Clio e Celta, eram minoria. E o branco dominou as ruas, passando a ser moda. Hoje temos as ruas como um filme de Chaplin: o que não é branco, ou é cinza ou é preto…
O último preconceito listado aqui é, sem sombra de dúvida, o mais burro de todos! Atualmente, com a evolução cada vez mais rápida, nós perdemos um pouco desse preconceito contra novas tecnologias, aquele medo de comprar algo que não vingará… Em 2015 quando a VW trouxe o turbo para os carros populares o mercado abraçou na fé, e hoje os turbos são a referência de desempenho e economia. Mas nem sempre foi assim… Na década de 1990 (sempre ela) o Brasil passava por uma tardia e gigante mudança: trocávamos o carburador pela injeção eletrônica. E várias pessoas preferiam o primeiro, porque os mecânicos de esquina não entendiam de eletrônica. E então entravam na concessionária, compravam um carro zero KM com uma tecnologia do século XIX, porque quando ele quebrasse, 4 anos depois, o Zé do Carburador não ia saber consertar…
Carros não são bens duráveis, não são investimento. São itens de consumo dentro dos quais você passa uma, duas, três horas por dia. Então quando for comprar o seu, seja ele novo ou usado, escolha algo que te atenda. “Ah, mas como eu vendo depois?” Ok, preocupe-se com isso, mas não use como único fator impeditivo. Quem vai usar o carro primeiro: você ou o próximo dono? Também não siga modas. Se você quer um carro vermelho, compre um carro vermelho. Se precisa de espaço pense nos sedãs, não compre SUV só porque todos têm SUV. E pesquise, sempre. Tudo isso vai fazer você gastar menos dinheiro e comprar algo que atenda tanto suas necessidades quanto seus desejos. E assista nossos vídeos também, assim você faz tudo isso e ainda se diverte!
Antonio Frauches, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.
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