Crise de meia idade – A hora de ter aquele carrinho “sonho de consumo” 

Um dia você acorda e, como num piscar de olhos, já se passaram 40 anos da sua vida. Casado, com filhos, vida estável… ou só a última opção, também vale. Você entra naquele seu carro que foi parar na sua garagem depois de preencher um checklist de prioridades que você tem porque todos têm: espaçoso, fácil de entrar, cabem 2 cadeirinhas, econômico, automático para encarar o trânsito, e o menos caro dentre as demais opções. Você gosta dele? É… Não sei…! Ele é ruim? Não… Mas falta identidade, falta aquele apelo emocional… Nem a cor branca agrada, mas era a que o vendedor tinha à pronta entrega. 

No trânsito indo para o trabalho, ao som da sua playlist personalizada, que toca na multimídia de última geração, a memória vai longe, lá nos tocadores da Tojo, Roadstar, Pioneer, sem nenhuma tecnologia. Você lembra daquele equalizador cheio de barrinhas analógicas que, em conjunto com o amplificador da Pyramid, produzia um som grave. Tudo recheado de cabos, fusíveis e falantes enormes e pesados pelo carro. 

Você acorda quando um som diferente do normal invade a cabine, e do alto do seu SUV, você espia, com ar de superioridade um Puma GTS parando ao seu lado no semáforo. O motorista tem a sua idade e está vestido como você. Provavelmente vocês têm empregos similares. A única diferença é que ele parece mais feliz, leve. O sinal abre e a sinfonia do boxer 4 cilindros ecoa de modo lento, lógico, mas com estilo e ar de nostalgia. No dia seguinte é a vez da dupla Escort XR3 e Kadett GSi passarem ao lado do seu veículo no trânsito cotidiano. Seria o destino apresentando um futuro alternativo? 

Reprodução

Com um passe de mágica, você chega no trabalho e abre o OLX. E não é para vender aquele carrinho de bebê obsoleto, mas sim para abrir o portal da crise da meia idade. Escort XR3 94, é o que você digita no buscador. Você logo percebe que ainda existe aquele modelo lindo, cor azul que o você tanto admirava quando adolescente. E para seu azar, ele custa uma quantia plausível. 

Já em casa, aquela enxurrada de anúncios tira o sono. Pesquisa daqui sobre o carro, acha informações dali e pronto, 3 jabiracas marcadas para visita no dia seguinte. O emocional escolhe o Azul Dallas, não por ser o melhor, mas por ter o maior link com a juventude. 

Pagamento realizado, transferência feita, é hora de curtir o “antigo”. Antes vamos ao mecânico, que já condena alguns itens. No ar condicionado, que constava no anúncio como “falta gás”, na verdade falta tudo. A luz da injeção acesa, “coisa de carro antigo”, como o proprietário lhe contou, era uma falha no MAF e para fechar a conta o fusível do teto solar queimado, na verdade era todo o mecanismo elétrico condenado. Sim, aquele carro que você viu no lançamento, sonhou e vislumbrou a compra, tem hoje quase a sua idade, e assim como o seu joelho, precisa de cuidados.  

Muitas cifra$ e 3 anos se passam, trocas de mecânicos, participação de 10 grupos de Whatsapp, sejam eles de entusiastas ou de vendedores de peças antigas, finalmente o carro fica pronto. Tudo funciona e você já não faz mais contas de quanto gastou com o carro barato do OLX. É hora de curtir. 

#Sextou e o que importa é que hoje é dia de chocar os populares. Os 10 primeiros minutos são mágicos! O carro pega como um relógio, o painel com grafismos vermelhos agrada mais a vista que o digital TFT do seu SUV. Temos som de motor, temos embreagem, temos suspensão firme e baixa. Também temos assoalho raspando nos quebra-molas do condomínio, temos 534 trocas de marcha no trânsito, temos algumas tossidas do motor sem muita razão, temos consumo elevado, digno dos anos 90. Porém os olhares invejosos vindos dos outros SUVs apagam esses problemas, ainda mais com linhas e identidade que se destacam em meio aos carros brancos e pratas. Temos luz de injeção acesa, temos som sem bluetooth, Spotify… O que é isso? ABS, Airbag e direção elétrica? Esquece… E quem se importa com isso mesmo? 

No fim do dia o que importa é a sensação, passar sob os olhares dos demais, realizar o sonho de infância. Andar nos bancos Recaro, com teto solar aberto. Tecnologia pra que, se a sensação e o prazer de estar realizando um sonho são o que importa?  

Para você que está passando por esse processo, aqui vai a minha dica: consulte um ótimo avaliador de carros antes de cometer esse suicídio financeiro. Siga grupos específicos de carros e fique sempre de olho nos carros negociados por lá. Carro antigo BOM, na maioria das vezes custa caro, mas, compensa na confiabilidade. Fuja de carros muito baratos e sem uma avaliação de quem conhece bem. Por fim, REALIZE seu sonho, sempre tendo em mente que é uma máquina antiga, que não pode/deve ser usada como nova e que em algum momento irá deixar de funcionar, mas, enquanto funciona, arranca sorrisos e olhares dos demais em meio à multidão de novos, cada dia mais sem espírito e identidade. 

William Marinho, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo. 

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