Confira o que a Geração Z acha “cringe” no sexo
Talvez você já esteja de saco cheio do termo “cringe”, mas uma coisa é fato: a Geração Z (pessoas nascidas entre 1996 e 2003) está redefinindo padrões de comportamento – inclusive no sexo.
Para começar, eles ligam menos para o assunto. Os jovens estão transando cada vez menos — e esse é um fenômeno mundial. De acordo com uma pesquisa publicada em janeiro de 2021 pela Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, americanos de 18 a 23 anos estavam fazendo 14% menos “sexo casual” se comparados aos millennials (geração nascida entre 1980 e 1995). Aqui no Brasil, uma pesquisa feita em 2019 pelo Instituto Datafolha com 1800 homens, identificou que 24% dos jovens de 18 a 24 anos não tinham tido relações sexuais nos últimos dois anos.
Transar menos não significa gozar menos
“O que falar dos Z? Eles não ligam para o sexo”, afirma o antropólogo e pesquisador Michel Alcofarado em entrevista Universa. Segundo ele, para entender a relação dos mais jovens com sua vida sexual é importante também analisar como o papel do sexo mudou de geração para geração. “Os Boomers viam o sexo como um ato de autonomia, os X encaram como ostentação e performance, e os Millennials trazem ‘propósito’ para dentro da relação sexual, as pessoas passam a transar com pautas, ideais”, afirma.
Na análise de Alcofarado, há uma mudança significativa entre os homens já que, com o empoderamento feminino, ficaram perdidos com as mulheres conquistando a liberdade sexual e exigindo prazer. Eles, então, preferem procurar satisfação sexual por conta própria. “Como esta é uma geração mais pragmática e ainda mais marcada pelo individualismo, a ideia de ter uma relação sexual nem sentido faz. É a geração do ‘vamos gozar mais e transar menos’. O cara é tão fissurado no próprio eu, na própria figura, que fica difícil de transar” diz. Em resumo, jovens zennials fazem menos sexo, mas fazem e, para eles, algumas atitudes e comportamentos na “hora H” estão tão fora de moda quanto a calça jeans skinny.
Chupão? OH-NO!
A estudante catarinense Inara Chagas, de 22 anos, começou a vida sexual aos 18, dois anos depois de dar o primeiro beijo. Hoje namora um parceiro que conheceu no Tinder há 1 ano e 4 meses. Ela lista quais atitudes acha ultrapassadas no sexo: “69 é superestimado demais, acho uma posição desconfortável pra caramba. Lambida na orelha? Cringe demais! Me broxa completamente”. Além disso, Inara também cita o “chupão” como um costume “cringe” na hora H.
“Lembro que antigamente as pessoas exibiam o chupão no pescoço como se aquilo fosse uma coisa legal… sempre achei muito nada a ver” Inara Chagas.
A sexóloga Cláudia Renzi faz uma análise comportamental para explicar por que”chupão” está fora de moda. “Ele está relacionado a uma cultura tóxica de masculinidade que está ficando ultrapassada. É como se o homem precisasse provar, marcar, delimitar a parceira – até no sexo”, explica.
Como a maioria dos colegas de sua geração Inara, apesar de estar em um relacionamento sério, transa cerca de duas vezes por mês com o namorado, que mora em outra cidade. “Antes de namorar, a frequência era ainda menor, no máximo uma vez por mês. Tenho muitas amigas que, após experiências sexuais frustradas, decidiram parar de transar. Eu mesma já fiquei 8 meses sem ter relações”, comenta.
Nudes, pornografia, celulares: como a tecnologia interfere no sexo Z.
Em uma pesquisa feita com exclusividade para Universa pelo site de encontros SexLog, 3.737 pessoas falaram sobre sexualidade. As respostas dos millennials e dos zennials foram parecidas na maioria das questões, tirando, justamente, a relacionada à frequência sexual — houve uma diferença de 10% no percentual de jovens que afirmam transar de 1 a duas vezes por semana: 79,5% millennials responderam que transam uma vez por semana, versus 68,1% dos zennials. Vale ressaltar que o levantamento foi feito com usuários de uma plataforma online de sexo, ou seja, o estudo foi feito com jovens que têm, sim, a vida sexual ativa.
A sexóloga Cláudia Renzi sente essa diferença geracional em seu consultório: “Os jovens de hoje em dia não têm libido. Eles preferem fazer qualquer outra coisa a sexo. Recebem muitos estímulos sensoriais exacerbados, vídeos, série, pornografia, e têm dificuldade de se concentrar na cama”.
Assim como Cláudia, o antropólogo Michel Alcoforado acredita que a tecnologia impacta diretamente na vida sexual dos zennials. É Afinal, é uma geração que nasceu com acesso total ao celular e a internet o que facilita o acesso a informação mas dificulta o exercício de imaginação. “Eles não precisam se esforçar, não precisam ir encontrar alguém fisicamente, já que podem receber uma foto nua direto no celular; entrar no XVídeos e têm acesso todo tipo de pornografia disponível. Ao contrário das outras gerações, que achavam que masturbação era um sexo piorado, para eles se masturbar é normal”.
A zenial Inara foi impactada pela pornografia desde cedo e diz que, para ela, isso teve um efeito negativo em sua sexualidade. “Durante muito tempo, achava que só conseguiria gozar se seguisse o que rolava nos filmes pornôs, depois consegui entender meu corpo e sentir prazer”, explica. Hoje, Inara trabalha como estagiária de uma plataforma de empoderamento sexual feminino e afirma que entendeu que transar pouco não significa gozar menos. O antropólogo explica essa lógica: “Não é que os zennials abandonaram o sexo, eles apenas ressignificaram o que é o ato sexual”, afirma Alcoforado.
*Com informações de Universa Uol.