GP de São Paulo de 2021 – O melhor GP do Brasil “sem brasileiros”

Você pode não saber, mas o final de semana passado estremeceu o automobilismo brasileiro, no melhor sentido possível. O GP do Brasil de Fórmula 1, agora batizado de Grande Prêmio de São Paulo, aconteceu nos dias 12, 13 e 14 de novembro, no grande último grande tempo do automobilismo nacional: Autódromo José Carlos Pace – Interlagos. Mesmo local, e data parecida com os últimos anos. Então, o que mudou? Mudou tudo, meus amigos… Tudo!


A TV Globo ficou durante quase quatro décadas transmitindo a Fórmula 1 no Brasil. Teve seu mérito, sua qualidade. Isso é inegável. Mas ao perder Senna parece ter se deixado levar pela vontade de manter o país inteiro acompanhando um esporte que, honestamente, para muitos é só chato pra caramba. Em 1991 o Brasil estava bêbado de F1.

Em 10 anos ganhamos 6 títulos, 3 de Piquet e 3 de Senna. E a Globo estava lá, e soube explorar. Mas paramos de assistir tênis quando Guga parou de vencer, e paramos de assistir boxe quando popó parou de atropelar seus adversários, e o mesmo aconteceu com a F1. Os quase 7 anos sem que o Tema da Vitória tocasse nos domingos machucou o fã que não era fã, e a Globo parece não ter percebido.


Desde a morte de Ayrton Senna, em 1 de maio de 1994, o Brasil vem em uma espiral descendente de emoções na Fórmula 1. Nós, mimados pelo ícone que Senna foi e embriagados pela mídia, não soubemos aproveitar e valorizar os vários pilotos que tivemos desde então. Rubinho e Massa foram os maiores, mas tivemos tantos outros com bom potencial. E se os maiores eram massacrados pela mídia, imagina quem nunca ganhou um GP… A mídia alimentou o defeito natural que temos em comparar e julgar. Sobre os ombros de Barrichello foi jogado o peso do “novo Senna”, e de lá só saiu para o próximo, depois o próximo… Cada novo brasileiro que chegava à F1 trazia um sussurro de “agora vai!”


Durante anos eu ouvi nas transmissões as vozes da Globo dizerem que “o brasileiro ama Fórmula 1”. Eu costumo dizer que quando o assunto é esporte o brasileiro ama duas coisas: futebol e vencer. O brasileiro médio não gosta de Fórmula 1, e repetir essa frase domingo após domingo não a torna verdade. Com o tempo o tom das transmissões passou de luto envolto a esperança, à vida nova presa a amarras, como aquela viúva que quer cair na balada, mas não sabe se já esperou o tempo certo. Treinos passaram a ser transmitidos só nos canais pagos, a transmissão passou a ser cortada rapidamente após a bandeirada, sem que o pódio fosse mostrado… Em paralelo, uma discussão tomava a internet desde o início da década passada: “por que não temos um piloto brasileiro com condições de vencer?” Quando Massa se aposentou, em 17, a pergunta mudou: “por que não temos pilotos brasileiros?” A resposta, amigos perdidos, é clara e cristalina: falta de interesse.


Do público? Não, jamais! “Mas Antonio, você disse que o brasileiro médio não gosta de F1.” Sim, eu disse. Mas somos mais de 200 milhões de pessoas. Temos público para tudo. E então eu volto a esse final de semana: foi uma das melhores corridas do ano, com disputas roda a roda dos aspirantes ao título, tudo isso assistido pessoalmente por mais de 180 mil pessoas em Interlagos, maior público desde 2001, quando Rubinho iniciava na Ferrari e, pela primeira vez desde 1994, tínhamos um brasileiro com chances de vitória. A TV Band conseguiu liderar a audiência em uma tarde de domingo por mais de 30 minutos, não consecutivos, mas ainda sim uma vitória. A mesma TV Band conseguiu sua maior audiência para o horário desde 2017.

E, para coroar a festa, para mostrar que o público brasileiro que realmente ama F1 está vivo e importa, ninguém menos que Lewis Hamilton desfilou depois da bandeirada carregando uma bandeira do Brasil, como Senna fez em 91 e 93. Depois foi até a grade saudar a torcida, que o reverenciava aos gritos de “ole ole ole ola, Senna, Senna”. E, depois de 13 anos, o público de Interlagos viu uma bandeira brasileira no pódio, mesmo que envolvendo Lewis Hamilton enquanto a bandeira do Reino Unido tremulava. E aqui explico as aspas no título desta coluna: a equipe Mercedes AMG F1 ainda nos deu um belo presente, escolhendo o engenheiro brasileiro Leonardo Donisete da Silva como seu representante para receber o troféu de equipe vencedora. O público pôde ver Leonardo e nossa bandeira ser erguido nos ombros dos pilotos da Mercedes. Muito obrigado por isso!

Toda essa festa foi mostrada pela Band depois de horas de transmissão no domingo, sem contar os treinos de sexta e sábado, mais a corrida sprint de sábado à tarde. O modo que a Band vem tratando a Fórmula 1, e a resposta que o público vem dando, reacende um interesse a anos adormecido. Pilotos só chegam à F1 com dinheiro, ponto final. Talento importa, lógico. Mas sem dinheiro um piloto talentoso não se mantém na F1. E com o passar dos anos a tendência é que esse limite se expanda para a F2, depois para a F3… A onda que a Band está começando vai atrair empresas interessadas em explorar cada vez mais esse produto gigante, e isso vai, com certeza, culminar em brasileiros voltando à F1. Bons pilotos temos, de sobra. Nos faltava alguém que mostrasse o esporte com seriedade e paixão, mas não uma paixão cega, uma paixão verdadeira. Não nos falta mais!

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*Redação Revista Pepper

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1 Comment

  • Achei bem comercial esta jogada do Hamilton.
    De paixão pelo Brasil tá meio exagerada !!!

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