Escola de Porto Alegre cancela apresentações de peça de teatro que usa linguagem neutra
Peça ‘Puli-Pulá’, do Grupo Cerco, chegou a ser apresentada no turno da manhã, mas foi cancelada. Colégio Farroupilha afirma que considera linguagem usada ‘inadequada’ para a faixa etária.
Três apresentações da peça “Puli-Pulá”, que seriam encenadas no Colégio Farroupilha, em Porto Alegre, foram canceladas pela direção da escola após a constatação do uso de linguagem neutra, que não distingue os gêneros masculino ou feminino, no texto. O Grupo Cerco, autor do projeto, fala em censura. A escola justifica que considera “inadequado” o uso de termos não reconhecidos pela norma padrão.
Uma apresentação chegou a ser realizada, na manhã do dia 29. Outras três que haviam sido marcadas foram canceladas, por decisão do colégio. As encenações marcariam o retorno do Grupo aos palcos após a pandemia.
Procurada pelo g1, a escola se manifestou em nota. No texto, explica que a instituição é um “espaço primordial de aquisição e exercício” da língua portuguesa, respeitando as variantes do idioma.
“Durante a primeira e única exibição, identificamos a utilização de termos não reconhecidos pela norma-padrão da nossa língua, o que consideramos inadequado, observando-se, ainda mais, a faixa etária de crianças em fase de alfabetização ou ainda não alfabetizadas. Em razão disso, as demais apresentações foram canceladas”, informa o texto. Leia a nota completa abaixo.
Segundo as integrantes do Cerco Elisa Heidrich e Martina Frölich, a peça infantil é apresentada desde 2015, já foi premiada e inclusive foi realizada no Colégio Farroupilha em 2018.
“A gente fala sobre a brincadeira de pular corda, enquanto brincadeira popular, atividades social, atividade física. Dentro dessa temática, a gente aborda temas como a ocupação de espaços públicos, aceitação das diversidades, das diferenças, a inclusão, ajuda coletiva pra superar desafios, então ele é um espetáculo embasado em muito estudo”, explica Elisa.
Na visão do grupo, as brincadeiras tradicionais como a corda são muito marcadas como brincadeira de menina. “Então a gente questiona isso, e afirma não ter uma brincadeira de menina, especificamente de menino, e a quantidade de preconceito que gira em torno disso”.
“Nesse guarda-chuva que nos fez optar por uma linguagem inclusiva, onde afirma que a brincadeira é para todes. De todas as idades, de todos os gêneros”, afirma a artista.
Martina acredita que a linguagem neutra não é imposta através da peça. “É a forma como a gente escolheu expressar, de forma inclusiva do público. Não é a toa que surge a linguagem neutra, ela é uma demanda da própria sociedade que se tenha uma linguagem mais inclusiva. Por exemplo todos os plurais da língua portuguesa são do gênero masculino. Então não há conteúdo imoral no que a gente fez, é uma questão cultural”, reflete.
Nota do Colégio Farroupilha
No Colégio Farroupilha, atuamos há mais de 135 anos em prol de uma educação de qualidade.
Informamos, portanto, que nosso Projeto Pedagógico prima pelo desenvolvimento de conteúdos e habilidades vinculados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), respeitando as variantes do idioma, mas reconhecendo, sobretudo, a escola como espaço primordial de aquisição e exercício da norma-padrão da língua portuguesa.
Em relação ao espetáculo Puli-Pulá, esclarecemos que o Grupo Cerco foi contratado para realizar quatro apresentações. Contudo, durante a primeira e única exibição, identificamos a utilização de termos não reconhecidos pela norma-padrão da nossa língua, o que consideramos inadequado, observando-se, ainda mais, a faixa etária de crianças em fase de alfabetização ou ainda não alfabetizadas. Em razão disso, as demais apresentações foram canceladas.
Por fim, reiteramos que educamos para formar cidadãos competentes, éticos e globais e que, ademais, acreditamos na parceria entre famílias e escola no desempenho desse compromisso.
*Com informações do G1