Dates ruins podem levar ao burnout afetivo
A síndrome de burnout ficou conhecida para explicar o quadro resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho. O problema tem como sintomas mais comuns exaustão física e psicológica, diminuição de energia, queda na produtividade, além de sintomas físicos como queda de imunidade, dores de cabeça e estômago crises de choro e de ansiedade. Mas recentemente o termo “burnout” passou a ser usado também no âmbito dos relacionamentos amorosos, para descrever um quadro de exaustão emocional e apatia quando o assunto é encontrar um parceiro para a vida.
Assim como no trabalho, o burnout afetivo ocorre quando vivemos experiências (no caso, amorosas) que exigem tempo e envolvimento emocional, mas que não dão o retorno esperado ou ainda se transformam em uma grande decepção. Com isso, surgem sentimentos de frustração, inadequação, ansiedade e baixa autoestima.
“Em alguns casos, a alta expectativa para encontrar alguém ‘ideal’ rapidamente e ainda o medo de ser rejeitado acabam criando muita ansiedade e podem levar até à depressão”, afirma Ricardo Milito, psicólogo membro do conselho de administração do Instituto Bem do Estar, em São Paulo.
Apps têm culpa
Milito acredita que o fenômeno tem relação com a forma como os relacionamentos da vida moderna se dão hoje: superficial e, muitas vezes, utilizando recursos tecnológicos, como os aplicativos de relacionamentos.
O problema é que, na busca pelo “match” perfeito, a pessoa pode acabar se envolvendo com diversas outras que irão decepcioná-la —o que pode despertar críticas e questionamentos sobre a própria capacidade de se relacionar amorosamente. “Há pessoas que buscam conseguir um relacionamento perfeito com apenas um ‘match’, mas isso é impossível”, avalia ele. “Esse imediatismo torna as relações muito superficiais e deixa as pessoas frustradas e cansadas”.
Outro problema de usar esse tipo de tecnologia como único recurso para se relacionar é uma gradativa perda da capacidade de “paquerar”, ou melhor, de participar do clássico jogo de sedução e de todas as incertezas e subjetividades que esse momento tem. “As pessoas são muito mais complexas que uma descrição de perfil”, acredita Bárbara Santos, psicóloga e psicanalista na Holiste Psiquiatria, em Salvador. “É uma expectativa irreal achar que é possível ter controle sobre como o outro é de verdade com base na seleção que é feita nesse tipo de aplicativo”, acredita.
A especialista lembra ainda que, quando o relacionamento não se aprofunda, ele fica sempre na esfera da sedução — aquele período em que nos desdobramos para mostrar ao outro o que queremos que ele veja. “Isso é insustentável por muito tempo, as pessoas acabam exaustas de viver isso várias vezes e ainda sentem que não se conectaram de verdade com ninguém”, avalia.
Sinais de que você está sofrendo com burnout afetivo:
- Você acha que se relacionar com outras pessoas dá muito trabalho ou é cansativo;
- Baixo interesse em procurar se relacionar com outras pessoas;
- Indiferença diante de atividades que antes eram prazerosas;
- Você revive as experiências ruins de forma vívida;
- Intenso questionamento sobre a própria capacidade de se relacionar e de sustentar um relacionamento de longo prazo;
- Medo da rejeição (“não sou bom o suficiente para ninguém”) ou sentimento de incapacidade (“não sou capaz de encontrar alguém”).
O que fazer?
Se você atingiu o ponto de exaustão nos relacionamentos e isso está causando um intenso sofrimento físico e psicológico, é importante buscar ajuda especializada. “Falar sobre si e compreender o que está sentindo é um passo importante para entender como chegou até aquele ponto”, explica Santos.
É importante também valorizar os momentos de solidão para ressignificar experiências do passado —o que pode ser desafiador para quem se sente pressionado a ter um relacionamento para se mostrar bem-sucedido. “Permitir-se ficar sozinho naquele momento ou admitir que não tem interesse em se relacionar por um tempo é muito saudável e uma forma de se preservar também”, afirma.
Por fim, vale lembrar que o uso de aplicativos de relacionamento deve ser uma ferramenta para encontros possíveis, e não um fim em si mesmo. Por isso, é preciso estar disposto a viver o encontro de forma inteira e estar aberto às possibilidades. “As particularidades do encontro amoroso moram na espontaneidade, quando erramos, por exemplo”, diz Santos. “É nesse lugar vulnerável que o amor acontece.”
*Com informações de VivaBem Uol.